Em comemoração ao Dia dos Professores, que ocorreu na sexta-feira (15), a Prefeitura de Muriaé, iniciativa da Secretaria Municipal de Educação, prepararam um grande concurso para homenagear a classe dos docentes, que precisou reinventar-se profissionalmente em razão da adaptação para o sistema de ensino remoto, ocasionado pelas medidas de distanciamento social para contenção do contágio por Covid-19. Denominado “Minha História no Digital”, o concurso consistiu em premiar os melhores relatos sobre o processo de adequação ao ambiente digital. Foram cinco episódios emocionantes sobre os desafios, as experiências e os aprendizados vivenciados pelos professores durante a pandemia, e todos podem ser assistidos através do YouTube. O primeiro lugar foi conquistado pela professora Ana Paula Marinho Batista Coelho, da Escola Municipal Professora Terezinha Maria Oliveira Ribeiro. Os outros finalistas foram os professores: Francisco Augusto Ricardo, Karina Gisele da Silva, Marianne Oliveira da Silva e Simone Santos da Silva Apolinário. Nesta entrevista, ela dá detalhes sobre sua experiência e partilha pensamentos sobre os novos contextos de aprendizagem.

JFdS: Inicialmente, você teve medo quanto à necessidade de reinventar-se profissionalmente devido à pandemia? Se sim, o que fez para superá-lo?

AP: Com certeza, a pandemia chegou trazendo medo, insegurança, desconforto em todos os aspectos e não foi diferente em relação ao profissional. Os desafios foram enormes, principalmente para a educação infantil em que o aprendizado acontece através da interação, da troca, do concreto e trazer isso para o ensino remoto foi muito difícil. Foi necessário muita pesquisa, persistência, criatividade e trazer a família para mais perto, pois dependia totalmente da família investir tempo e realizar nossas propostas.

JFdS: Qual foi o aspecto em que você sentiu a maior diferença na adaptação para o ensino remoto?
AP: A maior diferença ou dificuldade foi falar para uma câmera, não ter meu aluno diante de mim. E a necessidade de buscar e utilizar aquilo que os alunos tinham em casa para realizarem as atividades. Tudo era pensado de maneira que a família tivesse condição de atender. Muitas vezes fazia adaptações para que isso acontecesse e o aprendizado se concretizasse.

JFdS: No seu episódio da minissérie, você aparenta demonstrar bastante carinho com seus alunos. Como tem sido o feedback? Foi difícil manter os vínculos?

AP: Realmente sou uma professora muito apaixonada, amo minha profissão e gosto de contato. Penso que a criança sabe quando somos verdadeiras e as tratamos com respeito e amor. E foi justamente o feedback delas que não me deixou desanimar. Recebi muito carinho, áudios, vídeos, homenagens, incentivos. Cada vídeo que eles me enviavam enchia meu coração de alegria e coragem para prosseguir. A maioria dos alunos esteve lado a lado comigo. Não foi fácil, mas juntos fizemos muitas coisas e a aprendizagem foi acontecendo.

JFdS: Houve diferença na relação com os pais? Com o ensino à distância, eles se tornaram mais presentes no processo de educação dos filhos?

AP: Especialmente na educação infantil os pais foram essenciais e se envolveram mais na educação dos filhos. As crianças necessitavam do auxílio do responsável e muitos deles se transformaram em professores, claro que havia a insegurança, muitas vezes a falta de paciência, mas com jeitinho nós íamos trocando ideias, sempre que eles precisavam, me ligavam, nós conversávamos e buscávamos soluções. Tínhamos que entender a criança, que perdeu seu espaço e os pais que de repente se transformaram em professores. Eu estava passando pelos mesmos desafios com dois filhos em idade escolar dentro de casa, então buscávamos trocar nossas experiências e encontrar o caminho juntos. O desafio era gigante e, infelizmente, algumas famílias não conseguiram.

JFdS: Além de que a pandemia se trate de um evento de circunstâncias excepcionais, houve algum aspecto ou situação que a surpreendeu durante o ensino remoto?

AP: O que me surpreendeu foi o envolvimento das crianças, pois quando gravei o primeiro vídeo pensei que eles não teriam paciência de parar para assistir, mas eles gostaram, ficaram felizes. De repente estávamos interagindo por uma câmera, um celular. O retorno deles me surpreendeu muito. E a maneira de se reinventar e fazer a educação acontecer foi fantástico.

JFdS: Você enxerga alguma consequência da pandemia de Covid-19 para a educação brasileira em um futuro próximo?

AP: Infelizmente o impacto será enorme. A defasagem, o abandono, até mesmo a evasão escolar, muitos alunos ficaram perdidos. Eu trabalho com os anos finais do ensino fundamental e acho que para eles foi ainda pior. A dificuldade da aprendizagem, o desinteresse, muitas vezes a falta da tecnologia, nem todos tinham acesso aos aplicativos, a internet e ficaram perdidos. Como são maiores, a maioria não teve o apoio familiar. As famílias não tinham condição de assumir o papel do professor, tinham seus afazeres e dificuldades em acompanhar os filhos e, com isso eles acabaram sendo muito prejudicados. Com certeza teremos que ter planejamentos e estratégias para recuperar a aprendizagem.

JFdS: Qual foi a sua reação ao saber que venceu o concurso? Já esperava por isso?

AP: Na verdade não esperava nem passar pela primeira fase do concurso e de repente estava lá entre os 5 selecionados. Todas as histórias contadas foram lindas e cheias de verdade, de humanidade, de amor e de superação. Falamos sobre o que vivemos, então qualquer um de nós podia ganhar e era merecido. Quando foi para a votação popular eu achei que não teria chance, não sou tão conhecida assim. Mas recebi tanto carinho, tanto apoio da minha família, dos meus amigos, das minhas escolas, dos meus alunos, da minha igreja… Foi algo inexplicável, o tempo todo eu recebia mensagens de pessoas que nem esperava demonstrando apoio e dizendo “estou votando muito em você”. Eu vivi dias incríveis, cheios de amor e carinho chegando de todos os lugares. Foi uma experiência ímpar que ficará guardada em meu coração, marcou minha vida.

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