Em comemoração ao Dia Internacional do Livro Infantil, celebrado em 2 de abril, a escritora, professora, pedagoga e ex-presidente da AMLE (Academia Muriaeense de Letras), Valéria Cristina Monteiro de Barros Fernandes, concedeu entrevista à nossa redação sobre seu novo livro voltado ao público infanto-juvenil, “O Mundo Ploc de Pedro”, lançado no último dia 24 na sede da AMLE. A obra apresenta uma abordagem educativa sobre as crianças com transtorno de espectro autista e toda a renda arrecadada no lançamento do livro em Muriaé foi destinada à Escola Estadual João Alves Bittencourt Sobrinho, em Bom Jesus da Cachoeira.

 

JFdS: Como surgiu a iniciativa de se tornar escritora infantil?

VCF: Tem muito a ver com o campo de trabalho em que eu estive a vida inteira, a educação. Eu acredito muito no poder que a criança tem de ajudar a reinventar esse mundo. Toda semente que se joga nesse terreno da literatura infantil floresce com muita propriedade. É algo para o qual eu sempre estive muito atenta, pelo retorno que dá e por acreditar que a criança tem um coração mais puro e aceita com mais facilidade as coisas que colocamos. Por isso que eu, geralmente, opto pela literatura infantil, apesar de ter também produção em vários públicos.

 

JFdS: Como avalia a importância da existência de uma literatura voltada para crianças?

VCF: Eu acredito que, quanto mais cedo a leitura chegar no universo do ser humano, mais mudanças são aplicadas no nosso meio ambiente. A importância de estar nesse público é justamente porque, com ele, a tendência é melhorar nosso mundo. A literatura infantil tem um campo muito grande de informações, de oferta de conhecimentos e de estrutura de novas frentes de desenvolvimento. Portanto, é um campo fértil para essa mudança que queremos, de mentalidade, de comportamento, de entendimento e de valores, sejam eles morais, virtuais, sociais, etc. E hoje a consciência das famílias mudou muito, porque antigamente havia muita preocupação em colocar brinquedos na mão da criança. Hoje, ao visitar livrarias, percebe-se o quanto os pais estão voltados a incutir nas crianças o hábito da leitura. Isso é muito importante.

 

JFdS: Como é a situação dos alunos e da estrutura da Escola Estadual João Alves Bittencourt Sobrinho?

VCF: É uma escola pela qual eu tenho um carinho muito especial. Fui diretora dessa instituição há 27 anos, desde quando fiquei grávida do meu primeiro filho. Fui indicada e logo depois passei pelo primeiro processo de seleção, que era a escolha do diretor pela comunidade escolar. Bom Jesus é uma comunidade muito acolhedora, com um povo muito bom de se lidar e atuante na escola. Porém, o instituto apresenta muitas dificuldades, assim como a maioria das escolas públicas, principalmente as estaduais, que sofrem com atrasos de verba, falta de recursos, etc. Ao ver como a escola estava imbuída de vontade de melhorar sua estrutura física, resolvi ajudar como um resgate e movida pela saudade de lá. A iniciativa foi muito bem-vinda. Tivemos excelente retorno. Os cem livros destinados foram vendidos e a renda está muito bem empregada na limpeza e na estrutura física da escola.

 

JFdS: Como você tomou a atitude de realizar esse trabalho beneficente?

VCF: A minha iniciativa surgiu a partir de uma postagem feita pelos funcionários da escola no Facebook que mostrava o trabalho que eles estavam desenvolvendo em sua estrutura física. Eu tenho muita gratidão por essa instituição e amizade pela comunidade. A partir desses dois elementos fortes, eu decidi que essa ação social seria muito bem empregada.

 

JFdS: Como se sente ao saber que está ajudando os alunos da escola? Tem alguma mensagem que gostaria de deixar para eles?

VCF: Sinto-me muito grata e honrada e com o espírito de paz no meu coração. A mensagem que eu deixo para os alunos e também para os profissionais é que não existe nada mais importante em nossa vida do que fazer o bem. Todo o bem que é feito retorna. Esse bem começou a ser feito quando eu entrei na escola, quando eu adquiri essas amizades. E nada disso se perdeu. Com o passar desses 27 anos, continuamos amigos e responsáveis pelas coisas que plantamos e estamos colhendo agora. E mesmo assim, com todo esse tempo, percebemos que a sementinha que eu coloquei na escola de fazer o bem e procurar o melhor para nossos alunos continua viva.

 

JFdS: Você tem algum agradecimento a fazer quanto à produção do livro?

VCF: Primeiramente eu gostaria de agradecer a Deus, por ter me dado inspiração de trazer à tona a discussão e um pouco de entendimento sobre o autismo. Segundo, à minha família, que sempre foi meu alicerce em todas as situações. E também a todos os meus amigos, que estão me prestigiando e comparecendo aos lançamentos. Estamos na terceira etapa do lançamento. A primeira ocorreu em Gurupi, no estado de Tocantins; a segunda em Muriaé e esta semana em Juiz de Fora. Graças a Deus, tem tido um retorno maravilhoso, tanto com a venda como com os feedbacks que as pessoas vêm me dando em relação ao livro. Foi tudo muito bom.

                                                       

JFdS: Deixe uma mensagem para o seu público.

VCF: Todos nós somos responsáveis pelo mundo em que vivemos. Se cada um cuidar do seu entorno, não teremos problema. Nós temos que aprender a ver, a se sensibilizar, a acreditar nas mudanças e a buscar melhorias além da normalidade. Se eu chego a um lugar para prestar um serviço, eu posso fazer um pouco mais do que aquilo que me é determinado. E esse “pouco mais” muitas vezes está ligado ao olhar e à predisposição que nós temos em ajudar e querer melhorar o ambiente em que estamos atuando.

 

 

 

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