Copa do Mundo será oportunidade para conhecer a cultura de países islâmicos
Argélia e Irã jogam no Mineirão no Mundial e embaixadas preparam eventos. Muçulmanos que moram em BH revelam hábitos de alimentação e vestuário
Irã e Argélia, que jogam no Mineirão na fase de grupos da Copa do Mundo, aproveitarão o momento para estreitar laços com Minas Gerais e divulgar um pouco suas respectivas culturas. As raposas do deserto, como a equipe argelina é conhecida, entrarão em campo no Gigante da Pampulha no dia 17 de junho contra Bélgica. Já a equipe persa enfrenta ninguém menos que Messi e companhia, no mesmo gramado, no dia 21.
É nesse período que as embaixadas dos dois países islâmicos, em parceria com o Governo de Minas e Prefeitura de Belo Horizonte, realizarão na capital mineira atividades promocionais. Será uma boa oportunidade para conhecer a riqueza desses povos e do universo do Islã, religião predominante nessas nações.
Segundo a Embaixada da República Islâmica do Irã, o país realizará uma Exposição de Arte e Cultura composta por objetos artesanais, apresentação de pontos turísticos e locais históricos no período de 19 a 26 de junho, das 10h às 18h. A visitação será gratuita, no espaço BDMG Cultural, na rua Bernardo Guimarães, 1600, bairro Lourdes. Outra atração será uma amostra de cinema com a exibição de seis filmes produzidos por lá. O local e os horários das sessões ainda serão definidos.
Quem aprovou a iniciativa foi o casal iraniano Hedieh Zalaki e Hosseim Bonyan Khamseh, que poderá matar a saudade da terra natal e da família, que deixaram há um ano e sete meses para estudar. “Pai, mãe e todos os parentes estão lá, e eventos como este nos trazem aconchego. Adoro os filmes iranianos e vou me organizar para ir com os amigos”, relata Khamseh, que é de Teerã. Ele faz doutorado em engenharia elétrica na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e ela, formada em literatura, participa das aulas de português para estrangeiros na mesma instituição. “A cidade é arborizada, tem parques bonitos, como o das Mangabeiras. As pessoas também são simpáticas e, em três dias em Belo Horizonte, já fizemos amizades”, destaca Zalaki.
O casal já tem ingressos para três partidas da fase de grupos no Mineirão: Bélgica e Argélia, no dia 17 de junho, Costa Rica e Inglaterra em 24 de junho, e, claro, Irã e Argentina, no dia 21. “Será nossa primeira vez no Mineirão e estamos ansiosos para conhecer essa obra moderna e grandiosa. Será muita emoção ver nossa seleção em campo”, espera o iraniano.
Oportunidade para negócios
No caso dos argelinos, o primeiro-secretário da Embaixada do país, Chafik Kellala, conta que será organizado um seminário econômico sobre as oportunidades de negócios entre Minais Gerais e Argélia. A proposta, segundo Kellala, é definir possibilidades de investimentos e fortalecer as relações econômicas entre os dois países. Para isso, uma delegação econômica, composta por diretores do Ministério da Indústria, virá à capital para participar do encontro, previsto para a segunda quinzena de junho.
“O governo argelino está comprometido a diversificação da economia nacional, através da nova estratégia industrial baseada na promoção de setores com potencial de crescimento. A indústria no Brasil é um modelo de desenvolvimento e estamos interessados no lançamento de projetos, em parceria com operadores argelinos públicos e privados”, explica Kellala.
No campo musical, ele conta que a atração ficará por conta do grupo argelino El Dey, que se apresentará no dia 26 de junho, às 15h, na Fan Fest, no Expominas. Nesse dia, às 13h, Argélia estreia na Copa no jogo contra a Bélgica no Mineirão. “Argélia é o único país de origem árabe que irá participar da Copa e essa será uma boa ocasião para conhecer nossa música e cultura. A banda é jovem e bem conhecida por lá. O repertório é uma mistura do Gnaoui (sudoeste da Argélia), do chaabi (popular) e de influência flamenca”, recomenda.
Para os compatriotas que chegarem à capital, o argelino Allaoua Saadi, de 62 anos, que há 29 vive em Minas Gerais, também sugere uma programação: “Mercado Central, Pampulha, Circuito Cultural Praça da Liberdade, tarde na Savassi e noite em Santa Teresa”. Da culinária mineira, ele aprecia tropeiro com costelinha, mas como a maioria desses visitantes é muçulmana e não come a carne de porco, ele indica como cardápio o churrasco bovino.
Saadi é professor titular da UFMG na área de geociências, com ênfase em geomorfologia, atuando em temas relacionados a Minas, como turismo, desenvolvimento sustentável, neotectônica e morfoneotectônica. No Mundial, ele não arrisca dizer sobre os resultados do time argelino. “Minhas expectativas são para que apenas mostrem um bom futebol”, afirma.
Recepção a argelinos e iranianos
A expectativa das embaixadas é que cheguem ao Brasil, durante a Copa do Mundo, 3,1 mil argelinos e de 4 mil a 5 mil iranianos. Como a hospitalidade é uma das principais características do povo mineiro, é aconselhável que nossa população tenha noções sobre a cultura e costumes dos muçulmanos, maioria que chega a mais de 90% tanto na Argélia quanto no Irã.
O islamismo, religião oficial destes dois países, é a crença que mais cresce no mundo e representa 20% da população do planeta, aproximadamente 1,3 bilhão de pessoas. Há 22 anos na capital mineira, o sheik marroquino Mokhtar Elkhal coordena as atividades de uma mesquita em Belo Horizonte, onde recebe cerca de 150 muçulmanos de diferentes partes do mundo. Na Copa, Elkhal explica que promoverá confraternizações entre brasileiros e os estrangeiros. “A proposta é fortalecer os laços entre os povos e difundir nossa cultura e crença”, ressalta.
O Corão é o livro sagrado revelado por Alá (Deus) ao profeta Maomé e doutrina a conduta dos seguidores dessa prática. O livro proíbe a ingestão de alimentos como a carne de porco e de bebidas alcoólicas. Também são vedados o consumo de salsicha e tudo que contenha sangue, como chouriço e frango ao molho pardo. A refeição deve ser “halal”, que significa “permitido”, como leite, mel, peixes, legumes e carnes de outros animais, desde que sejam abatidos com a drenagem do sangue.
Zalaki e Khamseh são muçulmanos xiitas e geralmente comem peixes. “Adoramos também pão de queijo”, conta Hedieh. Morando no Brasil, o casal fez algumas adaptações aos hábitos religiosos. “Em Teerã, não usava calça jeans e andava sempre o hijab (véu), além de blusas com mangas. Lá a cultura é essa, todos andam assim, mas com nossa vinda para cá, não vi essa necessidade”, conta a iraniana. O marido também mudou alguns hábitos. Aqui, ele cumprimenta mulheres com aperto de mãos, hábito não usual nos países islâmicos.
Ramadã é o período de jejum ritual
Outro ponto de atenção ao receber o público muçulmano é o período do Ramadã, que este ano será entre 28 de junho e 27 de julho. Trata-se do nono mês do calendário islâmico, no qual os religiosos praticam o jejum ritual e não comem ou bebem nada do nascer ao pôr do sol.
A jovem Sofia Chekuer Navarro, de 15 anos, de Belo Horizonte, converteu-se ao Islamismo há um ano e conta como está sendo sua adaptação. “Temos que acostumar o corpo para não passar mal. Então, vamos fazendo jejum aos poucos e, para isso, troco receitas com outras garotas da mesquita”. Outra mudança de hábitos foi em relação ao vestuário e aos ambientes de lazer. Ela é adepta do hijab, não frequenta ambientes com muitas pessoas e nem festas que contenham bebidas alcoólicas.
Vinda de família católica, a garota se interessou pela religião na pré-adolescência e começou a estudar sobre o tema. Em uma viagem à Turquia, conheceu diferentes mesquitas e conviveu de perto com o universo dos turbantes. “Apaixonei-me pela comunhão entre as pessoas e pela beleza dos templos, construídos durante anos para adorar a Deus. Isso me trouxe muita paz”, justifica.
Fonte: SEGOV – Sup. Central de Imprensa – Gov.
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