A primeira Mostra de Cinema e Teatro de Muriaé, que aconteceu entre os dias 10 e 14 de setembro proporcionou aos muriaeenses diversas atividades artísticas, exibições de filmes, oficinas com atores de renome nacional e aulas sobre os primeiros cineastas do Brasil. Quem compareceu aos eventos pode conhecer um pouco mais sobre a criação do teatro e do cinema em na cidade, além de poder interagir com atores, diretores, cineastas e grandes nomes envolvidos com a cultura e a arte audiovisual.

A Folha do Sudeste entrevistou com exclusividade o cineasta e curador da Mostra, Bruno Bennec que fez um balanço do evento e o cineasta Euler Luz, que acompanhou a entrevista e também falou sobre a Mostra.

                          

FdS – O que uma mostra de Cinema e Teatro como esta vem agregar para Muriaé?

Bruno Bennec – É muito importante para a cidade saber que nós temos filhos da terra que são realizadores de grandes trabalhos na área e é também um grande incentivo para novos talentos. Quando temos um exemplo perto a gente se apaixona mais, tem mais garra para enfrentar as dificuldades e as glórias.

FdS – Fale um pouco sobre mostra.

Bruno Bennec – Eu fui convidado pela Flávia de Melo Neves Diretora da Fundarte de Muriaé para organizar a curadoria da mostra. A produção da mostra é toda da Fundarte e Prefeitura com apoio da Energisa. Como curador eu acho muito importante essa mostra ser realizada em Muriaé porque ela veio para registrar, catalogar, celebrar, todas as obras, ou grande parte das obras realizadas por cineastas muriaeenses, filhos da terra. Estamos fazendo esse encontro durante uma semana celebrando, revendo, assistindo pela primeira vez, compartilhando com produtores toda parte técnica dos filmes nesse encontro.

FdS – O que você achou da recepção do público?

Bruno Bennec – É importante compartilhar, porque muito poucos sabem quem são os nossos pioneiros, até mesmo os alunos das nossas escolas de arte vêm buscar essas informações, precisam descobrir suas inspirações. Apresentamos a todos a história do Carlos Scalla, um cineasta que começou na década de 60 e tem uma história muito bonita e até poética, ele trocou uma bicicleta por uma câmera 16 mm que era do estúdio Fortunato, e fizemos uma homenagem a ele, que foi muito precoce e está aos 64 anos comemorando 50 anos da realização do seu primeiro filme, “Lei Sangrenta”, feito aos 14 anos. Essa mostra está trazendo nossa história a tona para os nossos contemporâneos.

FdS – O que mais as pessoas que vieram à mostra puderam conhecer?

Bruno Bennec – Trouxemos para o público a obra do Moacir Fenelon. Ele é o fundador da Atlântida Cinematográfica e fez centenas de filmes da década de 40. É um muriaeense, nascido em Patrocínio do Muriaé, mas quando ainda era distrito da nossa cidade. Ele viajou o mundo e como tem uma filmografia muito extensa não conseguimos exibir todas as obras. Falamos também do Paulo Porto, outro filho da cidade que fez careira no Rio de Janeiro como ator, diretor e roteirista. Tem um filme bem emblemático e conhecido, lindo, chama-se “Em família”, foi quando ele dirigiu Fernanda Montenegro e Procópio Ferreira.

FdS- E como foi a parte teatral?

Bruno Bennec – Valorizamos a força dos muriaeenses de transitar entre todas as áreas, teatro, cinema e televisão. Trouxemos o ator Maurício Cangussu, que foi ator de um filme do Scalla há 16 anos, “A Arte da Violência”, e atuou no meu primeiro filme no Rio de Janeiro, “Crime”. Fizemos também uma homenagem ao Euler Luz, que falou sobre a fundação do primeiro teatro de Muriaé, o Gregório de Matos Guerra e sobre o Grupo Teatral Chão de Minas, fundados por ele na década de 1980. Esse grupo foi premiado em diversos festivais por todo o Brasil. E o Euler também trouxe parte de sua filmografia, que é muito extensa. Exibimos “Sapato Vermelho”, um filme que eu fiz com ele e é muito importante pra mim, “A Tua Presença”, onde eu também atuo, “Ubuntu” e a estreia do filme “Aviso Prévio”.

FdS – E quanto aos cineastas contemporâneos de Muriaé?

Bruno Bennec – Eles também foram contemplados, são pessoas que estão começando agora, mas já trazem uma produção muito interessante para a cidade. Exibimos alguns filmes deles, “Como era gostoso o meu príncipe”, da Fernanda de Paula; um filme da Escola de Artes Visuais Carlos Scalla, “O Valor da Memoria”; “Marinas”, do Raphael Filds, que traz atores de Muriaé e tem o Euler Luz como ator, isso é uma troca muito enriquecedora; e temos também um filme que se chama “Do lado de fora”, do Mateus Peçanha e do Paulo Vinícius, que faziam parte de um projeto chamado Os Meninos do Porto, há cerca de 14 anos. Esse projeto era desenvolvido por alunos do extinto curso de Comunicação Social da Faminas.

FdS – Tem algum trabalho do Polo de Audiovisual da Zona da Mata, com a participação de muriaeenses?

Bruno Bennec – A primeira produção do Polo foi feita em 2008, chama “A Cartomante” e eu faço par romântico com a Adriana Rabelo, atriz de cinema, teatro e televisão que também esteve na Mostra junto com o cineastra César Rodrigues, também Muriaeense, e um dos principais diretores do nosso cenário. Ele dirigiu os grandes sucessos “Minha Mãe É Uma Peça 2” – uma das maiores bilheterias do país e “Vai que Cola – o filme”, é ele que também dirige os programas “Vai que Cola” na TV.

O Cineasta Euler Luz acompanhou a entrevista e também falou sobre a I Mostra de Cinema e Teatro de Muriaé e conta como recebeu o convite para mostrar seus filmes e contar um pouco de sua história durante o evento.

FdS – Como você recebeu o convite para participar da Mostra?

Euler Luz – É sempre uma grande alegria mostrar o nosso trabalho, principalmente na casa da gente. Fiquei muito feliz, porque o Bruno é um parceiro de longa data. Eu participo dos filmes dele e ele dos meus filmes. Foi uma grande honra receber uma noite especialmente para mostrar o meu trabalho e conversar com o público sobre ele. Eu acho muito importante fazer em Muriaé um evento desse porte e que recebe alunos das nossas escolas de Audiovisual, Cinema, Teatro, Música e Dança. Pessoas que já interessadas em arte e podem fazer esse intercâmbio.

FdS – Como você vê a questão da cultura em Muriaé?

Euler Luz – Eu acho que as pessoas precisam ser mais incentivadas a participar. E eventos como a Mostra trabalham com a formação plateia. Porque temos muitos eventos nas áreas de música, cinema, teatro. Temos uma produção grande na cidade. Para se ter ideia só na nossa produtora são 12 filmes documentários e já estamos no sétimo filme de ficção, produzidos com apoio de leis de incentivo à cultura. A cidade não é parada culturalmente, mas às vezes quando tem um evento as pessoas não vão.

FdS – A atual conjuntura econômica talvez propicie esse afastamento?

Euler Luz – Talvez, mas não se poderia dize que trata-se de um afastamento da arte, porque as pessoas estão vendo filmes, séries na internet. Só que existe um grande apelo para que as pessoas fiquem dentro de casa. Elas tem TVs enormes, com som potente, então elas preferem chegar o filme nos canais por assinatura, enfim, não podemos criticar as pessoas, porque esse é um processo natural. Agora, para o teatro é necessário sair de casa e essa é justamente a sua alma.

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