Mensalmente quatro mil mudas de hortaliças são produzidas dentro da unidade prisional de Muriaé. Por detrás da muralha de concreto, mudinhas de alface lisa, crespa e americana, repolho, repolho roxo, cebolinha, salsa, almeirão, quiabo e mostarda crescem dia após dia: a cada muda, um novo olhar de renascimento. Elas são cuidadas pelas mãos de três custodiados que, caprichosamente contribuem para a formação dos canteiros de hortas já implantados ou em implantação nas demais unidades prisionais de todo o estado. Este é o projeto MudaR.

Na Penitenciária de Muriaé três presos se revezam, de domingo a domingo, nos cuidados com o plantio, desde o preparo das sementes e do substrato até o momento da colheita das mudas, que dura em média 30 dias. O trabalho é todo coordenado pelo Policial Penal Sérgio Vasconcelos. Pelo trabalho executado, os detentos recebem remição da pena, quando a cada três dias trabalhados, um é reduzido do tempo total da sentença judicial.

“Esse projeto proporciona benefícios além dos muros da nossa unidade prisional, pois possibilita aos presos o envolvimento em uma atividade produtiva, além de se sentirem úteis por fazerem algo em benefício das instituições da cidade, regressando à sociedade com maior autoestima”, enfatiza o diretor da penitenciária, Rodrigo Camargo.

As unidades prisionais interessadas em novas mudas ou em começar uma horta do zero fazem a solicitação das mudinhas à Diretoria de Trabalho e Produção do Departamento Penitenciário de Minas Gerais (Depen-MG), que repassa o pedido para a Penitenciária de Muriaé. Após o prazo estipulado, entre 35 e 38 dias, eles vão ao local para buscar as hortaliças que já estarão prontas para serem replantadas.

A Penitenciária de Contagem I (Nelson Hungria) é uma das que mais utilizam a produção. No final de setembro eles retiraram na Penitenciária de Muriaé 84 bandejas com 16.800 mudas. Depois de cultivadas, as verduras também contribuem para abastecer instituições da região. A produção é toda doada para o Hospital da Baleia, Hospital Municipal de Contagem, Hospital Municipal de Esmeraldas e APAE de Ribeirão das Neves. Outras instituições também são atendidas esporadicamente. Mais de duas toneladas de alimentos já foram doadas desde o início do cultivo, em junho do ano passado. No início deste mês, por exemplo, mais de cem quilos de verduras foram doadas pela Penitenciária de Contagem à Apae de Ribeirão das Neves.

“É muito importante para nós ajudar pessoas com maior dificuldade em conseguir alimentos e, as mudinhas que buscamos em Muriaé, contribuem para isso. Destaco a participação efetiva dos detentos. Eles participam de todo o processo e se sentem felizes com essa mudança de pensamento, de alguém que outrora fez o mal e agora pode fazer o bem. Por isso, tratam com tanto zelo e carinho o cultivo”, afirma o diretor de Atendimento da Penitenciária de Contagem I (Nelson Hungria), Ury Ribeiro.

 

Viveiro e horta

No espaço do viveiro, onde são produzidas as mudinhas, há também uma horta que, juntos, ocupam um terreno de mil metros quadrados. A horta da Penitenciária de Muriaé abastece sete instituições filantrópicas do município. Entre eles, o Lar de idosos Ozanam, a Casa Lar – que abriga crianças e adolescentes – e a Casa de Caridade de Muriaé – Hospital São Paulo. As mesmas hortaliças utilizadas para a produção das mudas são cultivadas para a doação.

Cerca de 400 quilos de alimentos, uma média de 50 quilos para cada um dos beneficiados, são retirados quinzenalmente da horta da unidade prisional e doados para as instituições. Janir Laviola, 57 anos, é um dos participantes do projeto. Há quatro meses ele cultiva as hortaliças e destaca a alegria do trabalho realizado. “Eu me sinto muito feliz em poder ajudar o asilo, os hospitais e saber que o que produzimos aqui também vai para outras unidades prisionais, que, por sua vez, realizam as doações para outras instituições. É muito gratificante. Eu me sinto realizado”, diz o custodiado.

 

Projeto MudaR

O projeto MudaR teve início em abril de 2019 apenas com a produção de alface crespa. De lá pra cá o sucesso foi tanto que outras hortaliças foram sendo agregadas aos poucos à produção. As mudinhas que antes eram fabricadas em um espaço adaptado ganharam também um viveiro exclusivo.

Desde o início, mais de 250 mil mudas já atenderam as mais diversas unidades prisionais do estado, conforme explica o diretor de Trabalho e Produção do Depen, Paulo Duarte. “O MudaR foi e ainda é fundamental para o suporte às diversas unidades prisionais de Minas para implementação e manutenção de suas hortas”.

Ele explica, ainda, que o cultivo das hortaliças, a partir das mudas recebidas, segue as diretrizes do decreto 45.242/09 que prevê a doação de toda a produção para instituições sem fins lucrativos, entidades autárquicas e fundacionais do Poder Executivo (ou órgãos da Administração Direta) e entes da federação. “Assim, são diretamente beneficiados creches, escolas, abrigos, bancos de alimentos de prefeituras locais, hospitais e asilos, por exemplo”.

Fonte:  cidadademuriae

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