Nicélio do Amaral Barros proferiu o discurso em homenagem a José Alcino Bicalho, quando da entrega da comenda-medalha José Alencar “Post Morten”, entregue pelo Poder Executivo de Muriaé, no dia 16 de maio de 2017. Após saudar as autoridades presentes e familiares dos homenageados, ele deixou um agradecimento ao prefeito Grego, pela iniciativa, e deixou as seguintes palavras:

“Ouvimos quase sempre que devemos homenagear as pessoas em vida. Creio que tal assertiva seja uma meia verdade. Devemos sim, sempre que possível, homenagear àqueles que amamos e às figuras públicas em vida. Mas jamais devemos deixar apagar das memórias pública e privada aquelas pessoas que marcaram época, que estiveram além do seu tempo, que fizeram da sua vida uma obra que marcou pessoas, gerações e lugares. Homenagear a quem merece, nunca será demais. Pelo contrário, é nosso dever.

É esse o caso do nosso querido José Alcino Bicalho.

O apreço que o vice-presidente José Alencar tinha por José Alcino era de tal envergadura, que, tenho a certeza, a homenagem é uma via de mão dupla. Tanto alegra a José Alcino receber uma homenagem que leva o nome de José Alencar quanto seria motivo de imensa alegria para José Alencar receber um reconhecimento público, em sua terra natal, que levasse o nome de José Alcino bicalho. A postura, coragem e sensatez de José Alcino sempre foram fontes inspiradoras das trajetórias de José Alencar, em quaisquer esferas da vida.

O José Alcino que nós e o mundo conhecemos foi um homem com os pés em dois mundos: as escalas de micro e de macro atuação. Minha colega historiadora Rosana Areal de Carvalho demonstrou o que digo de maneira brilhante em sua recente obra “O Cônsul e o Rei”. Então não preciso aqui me alongar.

Mas é preciso dizer aqui, e sempre: do mesmo modo brilhante que atuou na emancipação política do município de Miradouro, sendo seu primeiro prefeito eleito por eleições diretas – e à época o prefeito mais jovem de Minas Gerais – atuou também como deputado estadual, como embaixador, como adido comercial, como familiar, como amigo. Foi sempre leal, honesto, competente, digno e sincero.

Ao olharmos pra história do Brasil no decorrer do século XX com um sentido mais atento, iremos encontrar o José Alcino no movimento de criação da União Nacional dos Estudantes (UNE), em fins da década de 1930; no movimento importantíssimo para o país chamado “O Petróleo é Nosso”, no decorrer da década de 1940; iremos vê-lo como grande liderança política e diplomática no período em que o país mais se desenvolveu em toda a sua história, ou seja, entre as décadas de 1940-1950-1960. Abriu campos de negociação para o país na Europa e na África Ocidental. Um homem “globalizado”, plenamente. De confiança e respeito não somente de um Juscelino Kubitschek, mas de todos que conviveram com o “Zé Alcino”, da fazenda pai Inácio a Paris.

Foi um democrata liberal convicto. Lutou pela democracia política e comercial no país, defendendo sempre o diálogo e a livre iniciativa como pilares para a construção nacional. Eu sempre perguntava ao meu saudoso pai o porque de tanta estima pelo José Alcino, mesmo se ficasse anos sem encontrá-lo. Meu pai apenas me dizia: 'meu filho, o Zé Alcino é mais do que inteligente, capacitado, bom político, bom gerente, bom executivo. Na realidade meu filho, não que isso importe menos, porém, o que me encanta no Zé Alcino é a sua lealdade, a tudo e a todos que envolvem a sua vida'.

José Alcino Bicalho, seu legado, para além de tudo o que você realizou foi: honestidade, amizade e lealdade.

José Alcino: presente! José Alcino: presente! José Alcino: presente!

Que Deus sempre o guarde, estrela iluminada de nossa terra!"

Nicélio do Amaral Barros, professor, historiador, Mestre em História Política pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)

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