Verão de 1970 e o Rio de Janeiro fervilhava com sonhos e possibilidades. Entre os muitos que chegavam à cidade, um jovem do Recife desembarcava com um desejo ardente no coração: tornar-se um mestre das artes marciais. Seu nome era Edson Batista, mas o mundo das lutas o conheceria como Mestre Son.
A jornada começou na renomada Escola Moo Duk Kwan, sob os ensinamentos do grão-mestre Jung Rool Kim. As técnicas aplicadas ali eram consideradas de elite, desafiando até os mais disciplinados. Edson, com sua determinação incansável, rapidamente se destacou. Quando alcançou a faixa vermelha, recebeu o apelido de “Son”, e sua história ganhou um novo capítulo.
No início dos anos 70, o Taekwondo no Brasil era um território exclusivo dos mestres coreanos. Mesmo assim, Son ousou desafiar as convenções. Em Niterói, começou a ensinar a arte que tanto amava, ainda que sob a sombra do ceticismo dos próprios mestres coreanos. Para se sustentar e manter seus treinos, trabalhava gratuitamente em uma academia no centro do Rio, conciliando seus deveres com aulas no Clube Fluminense.
Os desafios eram imensos. Por três meses, Son lutou apenas para pagar o aluguel. À noite, exausto e sem dinheiro, era acolhido por um de seus alunos, Anacleto, que compartilhava refeições simples, mas cheias de significado. A frase que ecoava na academia que ele fundaria anos depois, “Desistir Nunca, Render-se Jamais”, traduzia perfeitamente seu espírito.
Quando finalmente os alunos começaram a surgir, o impossível se tornou realidade. Em dois anos, Son conquistou mais de 300 discípulos, provando que talento e dedicação não têm nacionalidade. Mesmo assim, ele mantinha o respeito pelos mestres coreanos, reconhecendo a importância deles na introdução do Taekwondo no Brasil. Mas havia algo que Son fazia questão de frisar: respeitar é diferente de bajular.
No dia 30 de junho de 1978, Son tomou uma decisão que mudaria o cenário das artes marciais no interior de Minas Gerais. Cansado das pressões de alguns mestres, ele deixou o Rio e seguiu para Muriaé, onde deu início a um movimento que expandiria o Taekwondo para várias cidades da região. De Muriaé a Ipatinga, de Cataguases a Timóteo, cada academia fundada era um símbolo de resistência e paixão.
Mestre Son nunca se limitou a uma única arte. Antes do Taekwondo, ele havia treinado boxe, judô, karatê e savate. Com os mestres coreanos, aperfeiçoou-se também no Hapkido e desenvolveu o método Full Gar, um sistema de defesa pessoal que carregava sua assinatura única.
Apesar das adversidades – incluindo a resistência dos próprios mestres, que ameaçavam boicotá-lo internacionalmente – Son perseverou. Ele acreditava que a arte marcial era mais do que técnica; era uma filosofia de vida. A força mental, física e psicológica que ele adquiriu ao longo dos anos tornou-se o legado que transmitiu a seus discípulos.
Hoje, a história de Mestre Son não é apenas a de um homem que enfrentou preconceitos e dificuldades para ensinar Taekwondo. É a jornada de um guerreiro que, como nos grandes filmes de artes marciais, desafiou todas as probabilidades e se tornou uma lenda viva.
E, assim como em “O Grande Dragão Branco”, o protagonista não apenas lutou contra adversários, mas contra as barreiras invisíveis do preconceito e da desconfiança. Mestre Son não apenas triunfou; ele inspirou uma geração inteira a lutar por seus sonhos, mesmo quando o mundo dizia que era impossível.
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